O Luto das Crianças. O Que Fazer? Como Lidar?

26.5.21

Não tem sido fácil.

Estávamos em confinamento, privados das nossas rotinas habituais e dos afetos, a lidar com uma realidade asséptica que não nos é natural, a tentar fazê-lo da forma mais integrada que conseguimos e aprendendo todos os dias com os erros, com as frustrações, com os momentos felizes e com as vivências que vamos tendo.

De repente,  temos todos que lidar com a perda por morte de alguém que nos é tão querido. Como já disse aqui, eu perdi a minha sogra, o meu marido a sua mãe, os meus filhos a avó. 

É sempre uma dor enorme, mas nesta fase, em que até os rituais, que nos ajudam a elaborar, a fechar ciclos e a começar a processar a dor, estão diferentes e limitados, em que as nossas rotinas habituais também não são possíveis, tudo fica ainda mais complicado.

Aqui em casa, fui eu que dei a notícia. Estava sozinha com eles quando o pai me ligou a dizer o que tinha acontecido, eles já sabiam que a avó se tinha sentido mal e que o pai tinha ido lá.

Juntei-os aos três na sala, eles perceberam pela minha expressão que alguma coisa não estava bem, e com a voz mais calma que consegui naquele momento, expliquei que a avó não tinha conseguido resistir, que já estava muito doente e que tinha morrido.

Foi um momento muito, muito angustiante. Eles choraram muito, a irmã, por vê-los a chorar daquela forma, chorava muito também. Eu fiquei ali com eles, ficámos todos ali abraçados e deixei-os chorar o tempo que precisaram, sem pressas.

Só depois vieram as perguntas: Se foi COVID? O que aconteceu? Como aconteceu? Se a podiam ver...

Tentei responder a tudo com a verdade e com o que eu sabia, e expliquei também o que se ia passar agora nestes dias, o que era o velório, como seria o funeral.

O Afonso pediu-me para ir comigo, queria estar lá onde a avó estivesse, queria vê-la. Expliquei-lhe também que noutra altura o caixão estaria aberto e poderia ver, mas agora com o COVID, não. O caixão estaria fechado e não podia ser aberto. Insistiu que queria ir na mesma.

O Francisco, desesperado com toda a situação, ainda começou a ficar mais assustado com tudo o que o irmão dizia. Perguntou-me se também tinha que ir. Expliquei-lhes que não. Expliquei-lhes que deviam pensar o que queriam fazer, onde queriam estar e respeitar isso. Eu iria respeitar o que me dissessem que os ajudava nessa altura.

O Afonso voltou a dizer que queria ir, o Francisco pediu para ficar em casa. Assim foi.

Antes de ir com o Afonso ao velório expliquei tudo o que me lembrei, como seria o que iríamos ver, garanti-lhe que iria estar sempre com ele e que viríamos embora logo que ele dissesse que queria vir. Expliiquei-lhe que às vezes pensamos que queremos uma coisa, mas chegamos lá e já não queremos, não faz mal, ele só tinha que me dizer e voltávamos para casa. Assegurie-me de que ele tinha percebido e lá fomos, sempre de mãos dadas, sempre a tentar lê-lo. 

Foram momentos muito duros, vê-lo à procura da avó naquele sítio, de qualquer sinal, a olhar para o caixão fechado e a chorar de forma desesperada e ainda assim tão contida. Ficou a olhar a fotografia na entrada, e as pagelas com a fotografia da avó na mesa de entrada. Perguntou-me se estavam ali para se poder levar para casa, respondi que sim, pediu-me se podia levar uma e guardou-a como a um tesouro. Perguntou se podia escrever no livro de condolências e o que se escrevia ali. Expliquei. Escreveu o seu nome e desenhou corações e um anjinho.

Nem sei pôr por palavras o sofrimento que senti e pude testemunhar.

Viemos para casa quando ele me disse que podíamos vir, e no caminho perguntei-lhe se sabendo ele agora como é ter vindo ao velório da avó, se voltava a decidir vir ou se preferia ter ficado em casa. Respondeu logo e muito seguro de que quereria sempre vir e que também queria ir ao funeral. Assim foi.

Em casa encontrámos o irmão calado e com os olhos muito tristes e assustados. Perguntei se queria saber como foi ou se queria falar, não quis. Abracei-o e respeitei, um e outro, no seu sofrimento enorme e nas suas diferenças em senti-lo. 

Dois exemplos de como as crianças poder reagir de formas tão diferentes e em como os devemos apoiar e respeitar.

Não tendo sido nada fácil, e sendo este um assunto tão pouco falado e tão inevitável nas nossas vidas, sugiro aqui algumas leituras, que em família, podem trazer o tema de forma a acedermos e a sabermos como abordar o que pensam e sentem as nossas crianças sobre a morte e a perda.

Aqui ficam algumas sugestões de livros:

História do Sempre e do Nunca

Onde Está a Avó?

O Coração e a Garrafa

Um Avô Inesquecível

Não é Fácil, Pequeno Esquilo!

A Avó Adormecida

Eu Lembro-me

Noa 

A Ilha do Avô

Para Onde Vamos Quando Desaparecemos?

A Caixa da Avó Maria

A Morte Explicada aos Mais Novos


Para os pais ajudarem os seus filhos nesta dura tarefa temos o livro (para pais) 

As Crianças, A Morte e o Luto

e o jogo didático para jogar em família:

(Sobre)Viver na Selva


E também o filme Coco da Disney.

Não são temas nada fáceis, mas são temas centrais em que a nossa participação é preciosa para que possamos ajudar as nossas crianças a lidar com temas tão sensíveis.

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