2.2.21



Agora tocou-nos a nós. 

No meio de toda esta angústia diária de números que são gente, de isolamento e privação daquilo que nos é mais querido, estar com os nossos, perdemos todos. Eu perdi uma querida amiga que vivia para o meu marido e para os meus filhos, para os seus filhos e netos. Alguém que no grande sofrimento da sua débil condição de saúde, não se queixava e tinha sempre uma palavra querida, um gesto, um cuidado.

A pandemia roubou-lhe os netos do colo, os almoços em família, tudo aquilo para o que vivia. Apesar das inúmeras video-chamadas, a saudade tatuou-lhe o rosto e a alma e eu não duvido que o infindar dos dias lhe pesou mais do que podia aguentar.

Se morreu de COVID? Não, mas nada me tira do pensamento que também morreu por causa dele. Teve o primeiro sintoma sério na semana do Natal, o segundo na semana passada, no aniversário do Afonso. Momentos que sempre, até agora tinham sido de partilha e de convívio e que este ano não. E na madrugada de domingo deu o seu último suspiro em casa, nos braços do amor de uma vida, como quem já não suporta mais a promessa de que esta saudade pode terminar. E na tristeza destes dias, nem agora na dor, nos podemos abraçar.


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