"Setembro. Setembro era um mês que eu adorava quando era só filha. Já estava farta de férias desde meados de julho, já me tinha aborrecido de morte sem fazer nada, dias e dias a fio. Para fugir a esse tédio já tinha inventado mil projetos, lido pilhas de livros, escrito postais ilustrados ou cartas em papel de carta lindo, para enviar às amigas que estavam fora, eu sei lá...
Estava mortinha por ir comprar os livros novos, os cadernos e mochila, por regressar à escola, poder estar todos os dias com os meus amigos.
Agora...
Agora é a expressão da angústia.
Quando vejo os dias de agosto a passar, vou sentindo um aperto na garganta cada vez maior.
São as rotinas, as nossas e as dos miúdos. As birras ao levantar, as lancheiras para fazer, os pequenos- almoços a correr, tudo ao som do "- Despacha-te, depressa, despachem-se, rápido, despacha-te!", a corrida de uma escola para a outra, os olhinhos deles de cachorrinho abandonado quando lá os deixo, o nó na minha garganta a apertar, a apertar...
E as contas?! São os livros, todo o material escolar, a corrida aos horários da natação, mais a música e o inglês. E as roupas?! O que eles crescem no verão é assustador! Assustador principalmente quando os vejo com as mangas que mal passam do cotovelo e as camisolas que não chegam à cintura... Depois são os sapatos e os ténis...
Desde que entrei de férias que não há noite que não acorde com este peso no peito e esta angústia toda. Setembro já está aí e como é que eu vou fazer?!"
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