O Melhor do Meu Dia - 19/02/2014

21.2.14



Ter ouvido ler este texto ao vivo e na primeira pessoa, em consulta, que faz valer a pena todos os momentos de entrega, de cansaço, de vida.


"Fiz coisas horríveis por um objetivo ainda pior. Nunca pensei estar a escrever isto e a dizer as coisas que em frente vou dizer, não me envergonho daquilo que direi porque se as vou escrever é sinal que sei o quão grave, ridículo e chocante elas são, e ter a noção disso foi o passo que me faltava para abrir os olhos.
Tive e estou a passar por uma doença, que apesar já não ser visível aos olhos dos que estão á minha volta, é muito visível dentro da minha cabeça. A anorexia pode destruir uma pessoa interiormente e exteriormente. 
Quando comecei a ter a ‘’mania’’ das dietas, só achei que seria mesmo isso, uma dieta, ir correr umas vezes, talvez um ginásio e estaria tudo bem. Estava longe de imaginar o que é que me iria acontecer. Se me perguntarem se voltava atrás? Não sei o que responder, provavelmente nunca serei capaz de responder a isso, porque me trouxe coisas tão más, mas também coisas boas. Trouxe me a força que eu precisava para enfrentar outros problemas, trouxe me o apercebimento dos meus melhores amigos, trouxe me o estofo que eu precisava para qualquer situação da minha vida, e se calhar isso me vai ajudar com bastantes coisas. Se começar a enumerar todas as coisas más que me trouxe, preencheria 10 folhas destas. 
Acredito, que esta obsessão não foi para atingir o corpo perfeito ideal como todas as raparigas do instagram têm, acredito que 70% da razão foi essa, foi o desejo de me identificar com os corpos bem feitos das modelos, foi mostrar que também eu conseguia ser assim , o que eu achava que era o ideal e o mais importante mas 30% são muitas outras... (...) 
Perdi 12 kilos em 4 meses. 
Ganhei uma doença, uma obsessão, ganhei tristeza, preocupação, pesadelos, desespero, mau humor. Perdi saúde, perdi alegria, perdi quem eu era. Não gostava de mim, não me sentia boa o suficiente, ficava sozinha em casa, não queria ver ninguém, não queria ir para a praia. Ficava horas e horas em frente de um espelho, ou ao lado da balança. Comer era um sacrifício. 
Ter chegado aqui, e estar a escrever isto, não foi fácil, e todo este processo não foi de todo fácil. Tudo aquilo que eu pensava, e ainda por momentos penso, são calorias, que não posso comer mais do que x’s calorias , e que se comer vou engordar e ficar gorda e as pessoas não vão gostar de mim, tenho uma voz dentro de mim que me atormenta, e que me assusta, que me faz não comer, que me faz sofrer. Eu vi a pessoa que eu era antes de ter isto como uma pessoa má que as pessoas não gostavam, até poderia fazer sentido tendo em conta o que várias pessoas me fizeram, mas nunca me deveria ter esquecido do lado forte das pessoas que gostavam de mim e sempre la estiveram para me apoiar. O lado mau ganhou e um lado pior se formou. Senti que não tinha por onde me virar, se olhasse para um lado estava mau, para o outro ainda pior, mas nunca olhei para a frente onde era o caminho.
Tornou-se uma obsessão que não conseguia controlar. Todos os dias desde há 6/7 meses penso que aquele dia vai ser diferente, que vou conseguir comer e que não vou contar calorias, mentir por comida, esconder comida, deitar comida fora ou fazer qualquer estupidez. A quantidade de lágrimas que chorei devia dar para encher uma garrafa de água inteira, e a comida que estraguei por não querer engordar, alimentava uma criança em África e fazia com que ela não morresse á fome. 
Desespero e frustração foram os sentimentos mais presentes na minha vida nestes últimos tempos, saber que só eu é apenas eu posso mudar isto, que a minha força interior e mental e que vai fazer com que eu fique boa, por mais conselhos, ajudas, palavras de pessoas, a mudança está em mim, só eu é que posso mudar isto e arranjar essa força e motivação, foi o que me faltava. Faltava-me olhar para o que estava à minha volta, faltava-me olhar para a família maravilhosa que tenho que também sofreu com isto. Faltava-me olhar para as coisas que me fazem realmente feliz. Ser feliz não é ser magra, não é não comer, não é ter pernas magras ou ossos á mostra.
Esta mania começou a passar quando eu abri os olhos, e tive pessoas que me abriram também. A vida não é curta , eu é que me esquecia de muitos dos dias em que pensava e fazia planos para não comer, esses dias ninguém mos traz de volta, mas melhores dias recompensarão esses. Percebi que a vida é muito mais do que por uma fotografia no instagram só para mostrar pernas magras, é mais do que ser magra e lutar por um corpo perfeito. A vida é um bolo de chocolate, comido com as minhas melhores amigas enquanto nos rimos como se não houvesse amanhã, a vida são muitas pipocas com a melhor companhia no cinema, e é um grande menu no mac donalds com os meus irmãos, e também uma saladinha com a minha mãe. Não quero de todo voltar ao que eu era antes, mas construir uma nova Leonor, construir uma Leonor saudável, que come saudavelmente e faz exercício porque faz bem á sua saúde e não porque é obcecada com a magreza. Apercebi-me que quando concentras todas as tuas energias nas coisas erradas, não tens olhos para olhar para as boas. Não tive olhos para ver a sorte que tinha em ter umas amigas ótimas sempre a tentar puxar me para cima, uma família que sempre esteve ao meu lado neste processo, uma escola fantástica com um ótimo ensino. 
Não sei quando é que vou ficar boa mentalmente disto tudo, mas espero que seja brevemente, sei que se não for, vou ter este texto para ler, escrito pela Leonor a querer ficar boa e não a Leonor- A obcecada pela magreza. 
As pessoas não têm a noção que aquilo que dizem, pode marcar muito e que palavras magoam mais do que muitas vezes ações, e o mais importante de tudo que eu entendi é que é impossível agradar a toda a gente, e tens é que é que te agradar a ti próprio, porque no final do dia só te tens a ti, e só a ti. A recuperação só depende de ti, e não dos outros, quando começas a concentrar as energias nas coisas boas, coisas boas te acontecerão, mas se continuares neste pesadelo pior se vai tornar." 
Leonor, 16 anos




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