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"Estou farta, fartinha deles!
Isto parece loucura, mas é mesmo assim que o sinto. Estou esgotada, farta de ralhar, de gritar, de arrumar brinquedos do chão, de fazer sacos e malas e mochilas de roupa, fraldas, biberãos, mais a tralha toda da praia, para descobrir que me esqueci da única coisa que não me podia ter esquecido: O peluche do o-ó do mais novo.
Que tipo de mãe se esquece da única coisa essencial para o mais novo?! Só uma mãe incompetente! Sinto-me a pior das mães. Vou daqui para o Algarve para descobrir lá, que levei o carro atafulhado de coisas que até podia ter comprado lá, afinal o Algarve ainda não é o fim do mundo, e esquecer-me da única coisa que não é possível substituir. Nada, NADA, substitui o coelhinho do o-ó.
Isto é um tormento.
Passo o ano inteiro a sentir-me culpada por não ter tempo para estar com eles, por passar os dias a correr, a dar-lhes pressa, sempre com o fito nestes dias de férias, dias em que finalmente poderíamos estar todos juntos, sem pressas, só uns com os outros, a ser felizes, e agora sinto-me tal qual um burro a correr atrás de uma cenoura que nunca chega.
Sou um fracasso na única tarefa onde gostava genuinamente de me sentir competente. Dei por mim descontrolada, a chorar entre sacos de sandes e toalhas de praia que era preciso carregar de madrugada (como sabe os bebes não podem apanhar sol nas horas normais), para o lugar mais recôndito da praia, onde eles podem brincar à vontade (à vontade que é como quem diz...)... De repente estou ali, desesperada e vejo 3 pares de olhinhos assustados a olhar para mim. A minha filha do meio fez-me uma festinha na perna e disse-me:
- Tas tiste, mãe? Não queres ir a paia?
Desabei naquele instante.
Olhei para eles e senti-me ainda mais desesperada... Eles mereciam melhor.
E nesse instante apeteceu-me fugir dali, mas ao mesmo tempo quis crescer 3 metros e abraçá-los a todos e conseguir resolver tudo.
Isto é tão difícil, tão difícil...
Ouvimos dizer toda a vida:
"- Só vais perceber quando fores mãe."
E eu cheia de certezas pensava: "Deve pensar que vou ser assim como ela. Eu sei muito bem o que quero passar aos meus filhos e como os quero educar!"
Ironicamente o que me passou foi a certeza. Perdi todas as certezas desde que fui mãe. E a segurança. Nunca sei se eles estão a ouvir o que eu estou a dizer, ou se estão a interpretar outras coisas. Eles são 3 e são 3 mundos completamente diferentes. Como é que é suposto eu saber o que fazer e como fazer com cada um deles?
Ás vezes penso que eu não nasci para ser mãe... Apesar de toda vida ter querido ser mãe, agora duvido e desespero... E é nesses momentos que me vêm à ideia aqueles 3 pares de olhinhos expectantes a olhar para mim e cresce em mim uma força que eu não conhecia, só quero estar com eles, aprender a dar-lhes o melhor, o que eles realmente precisam.
Eu não estou bem. Não posso estar. Só penso em fugir deles, preciso fugir deles e ao mesmo tempo eles são a primeira coisa que penso levar nesta fuga.
Diziam as mães que eu só perceberia quando fosse mãe, quem me dera agora que isso fosse verdade..."
Quem nunca teve dúvidas, quem nunca se questionou sobre o caminho a seguir (e até sobre o caminho que seguiu), quem nunca achou que era a pior mãe do mundo, quem nunca achou que devia/podia fazer melhor, quem nunca se fartou, quem nunca teve vontade de largar tudo... das duas uma: ou não é mãe ou então é mesmo má mãe e nem quer saber!
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