No outro lado da minha vida, quase todos os dias ouço histórias de vida como esta, que aqui lhe deixo hoje. É preciso estar atento aos sinais, aos nossos e aos dos outros, porque nem sempre é fácil reconhecê-los e pedir ajuda.
A Depressão é uma doença, uma doença muito séria.
Sentei-os no sofá em frente à televisão e fi-los repetir duas vezes comigo: «A mamã gosta muito de mim e aconteça o que acontecer não é culpa minha». O meu filho mais pequeno, então com dois anos, repetiu mecanicamente e continuou a ver os desenhos animados. Desejei ardentemente que não se lembrasse de mim quando crescesse. O meu filho mais velho, de quatro anos, começou a repetir, e de repente parou e perguntou: «Mamã, estiveste a cortar cebola?».
Só me lembro de sair da sala cambaleante, desarmada por aquela ingenuidade imaculada e certeira, e de começar a hiperventilar. Depois não sei o que aconteceu. Duas horas mais tarde, quando o meu marido chegou a casa, os meninos informaram-no que a mamã estava a dormir no chão da cozinha.
Seguiu-se um processo moroso e doloroso de recuperação, internamento, tratamento psicoterapêutico, tanto em Londres, onde vivia, como em Lisboa, onde tinha a minha família. Mas não foi fácil. Recordo-me de me estar a sentir muito melhor – e, no entanto, de cada vez que olhava para uma faca, pensar se a lâmina seria suficientemente afiada. E se se seria mais eficaz cortar os pulsos ou a garganta. E que não me podia esquecer de comprar um amolador, porque o mais desagradável de tudo é querer fazer um corte e a faca estar romba.
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