Conversas... com a Sílvia

20.1.14
Finalmente acabou. E isso fez do dia de ontem um dia muito importante.

Por aqui os dias todos têm sido muito importantes, cada hora e cada minuto pesam e são importantes. Aprende-se a dimensão do tempo, o seu peso, conhece-se a urgência de que o tempo tenha  o seu tempo, não mais, não menos, e ontem esta angústia finalmente terminou.

Na véspera deste grande dia, numa das nossas conversas como forma de preencher as horas e colorir os dias, falámos de tudo.

Deixamos aqui o apontamento dessa conversa como forma de testemunho e de dar alento e força a tantas e tantas mulheres que travam estas batalhas.



Sílvia (35 anos) - ...A primeira vez que pensei engravidar foi aos 18.... mas na verdade o desejo só se  transformou em certeza aos 32. Foi aí a decisão e foi também aos 32 que veio o diagnóstico de um útero com miomas. E com este diagnóstico um peso enorme de culpa, de ter adiado um desejo por tempo "demais".
Depois de ter passado por isso, fiquei com a noção de que temos de ter muito cuidado com os sonhos que adiamos...

Eu - E desde então até engravidares, quanto tempo passou?
Sílvia - 2 anos e meio. O meio parece irrelevante mas na verdade tem um peso enorme.
6 meses de" será q e desta ?!" têm a força de um furacão.

Eu - Foi necessário fazeres alguns tratamentos?
Sílvia - Sim, uma miomectomia (cirurgia para remoção dos miomas) e uma histeroscopia.
Ia ingressar em fiv (fertilização in vitro) no serviço de infertilidade e estava ponderar o início de tomas hormonais (ideia que detestava). Um mês antes do início do tratamento, algumas vezes adiado. A Diana decidiu arranjar um sítio improvável e quase impossível no útero para se instalar :)

Eu - E quando é que soubeste que estavas grávida?
Sílvia - No dia 3 de Julho 2013. Fiquei incrédula, como senão fosse possível. Depois veio uma alegria imensa e um medo terrível, os "e se...." invadiram-me.

Eu - É sempre uma avalanche de emoções, no teu caso deve ter sido um valente maremoto emocional. Quando soubeste que havia algum risco?
Sílvia - Desde de que foi feito o teste. Uma semana antes tinha tido um princípio de aborto, que decidi assumir ser a menstruação a chegar..... 2 semanas depois era inevitável fazer o teste.... foi positivo.

Eu - E que risco era? O que te explicaram os médicos?
Sílvia - O risco de não chegar a gravidez a termo. De os miomas crescerem e expulsarem a Diana.
Há uma tentativa (inglória) de não nos envolvermos tanto no projecto de futuro de ser mãe. A necessidade de nos protegermos de uma perda catastrófica. Mas é completamente impossível e na verdade investimos tudo e caímos de cabeça no sonho do que Será.

Eu - Soubeste logo que terias que ficar de repouso?
Sílvia - Soube aos 2 meses de gravidez. Foi-nos sempre dito que tinha de ter muito cuidado. Acabaram-se os passeios a pé, mas de repouso efectivo desde os 3, 4 meses de gestação.

Eu -  É muito tempo. Como foi esse tempo de repouso para ti?
Sílvia - Inicialmente era fantástico, tempo para não fazer nada :)
Depois comecei a ocupar o tempo com aqueles trabalhos manuais que me apetecia fazer, com televisão e com trabalho possível de fazer em casa (chamadas, e-mails, supervisão)
Tentei manter sempre uma rotina, em que o dia fosse ocupado com actividades diferentes e onde fosse possível haver algum ritmo que permitisse passar os dias, sem os pensamentos o controlarem. E também com alguma ginástica mental manter os pensamentos negativos afastados e focar nos positivos.
 Claro que há momentos onde temos de exorcizar os medos e fantasma, e verbaliza-los  para os poder resolver.

Eu - Os médicos foram-te sempre dizendo que provavelmente terias que ser internada no final da gravidez. Mas quando isso foi efetivo, como reagiste a essa notícia.
Sílvia - Na verdade muito bem. O risco de uma placenta prévia total é o descolamento da placenta fazendo com que exista uma hemorragia massiva e perda do feto. Existe uma janela de cerca de 20/30 minutos para ser feita a cesariana de emergência.
Aqui sinto-me segura e com certeza que se correr mal estou no sitio certo.

Eu - Já aqui estás há quase 2 meses, como é estar aqui todo este tempo?
Sílvia - Estou aqui vai fazer 7 semanas, segunda-feira que vem.
Não é fácil, mas há estratégias para ser mais simples. Não contar os dias e conseguir criar alguma rotina que permita o embalar suave do tempo sem ser escravo do relógio. Reger os dias pela luz do sol torna a estadia mais fácil.
O melhor de estar aqui, é sem dúvida a paz de saber que tudo está bem, que a Diana está acompanhada, de ouvir o bater do seu coração todos os dias e simplesmente poder estar calma e feliz a preparar os dias que se avizinham.
O pessoal de enfermagem e auxiliares são fantásticos. As pessoas que passam por aqui todas têm o mesmo objectivo. Cada dia é uma vitória. Cada semana uma conquista.
O pior são 2 factores: Um deles muito emocional.... aqui tudo pode correr mal e infelizmente algumas vezes corre. E tens de lidar com o desespero alheio, mas que também é tão teu. Estas mulheres que passam pela minha vida por apenas uma semana, estão no mesmo campo de batalha que eu e há um sentimento de tropa. Ninguém fica para trás, então as dores delas são mesmo nossas, os medos delas são os meus e quando as coisas correm mal é devastador.... mas ao mesmo tempo só podemos deixar entrar uma parte, temos de proteger a vida, a que tem mais peso que a nossa. E é aí que muda tudo.
A outra questão é muito terrena :) : A comida depois de 1 mês torna-se verdadeiramente insuportável.....

Eu - E agora que estás quase, quase com a Diana nos teus braços, como te sentes?
Sílvia - Talvez por tudo, nunca tive os medos "típicos" de mãe de primeira viagem. Não tive medo do choro, do não dormir, de não saber... o meu medo era só um:  E se ela não chegar  a nascer? E depois?..... E se nascer prematura?? Agora chegou o medo de mãe de primeira viagem :) mas sabe tão bem ter este medo, que me ocorre sempre a frase : I am not afraid, I was born to do this. 


Pinzellades al món: Embaràs / Embarazo / Pregnancy Chrissy Butler


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