Nó na garganta...

3.9.13
Setembro.

O recomeço, as rotinas, os horários, a guerra para dormir, o sono pela manhã, os dias mais curtinhos, o cheiro bom do material escolar novinho a estrear e a escola, sempre a escola.

Eu adoro escolas. Boas escolas. O mundo de pessoas e experiências que proporcionam. A forma como se conjugam saberes diferentes e necessidades. O desafio da diferença, o convite permanente a chegar mais longe. Tantas vidas, tantas realidades diferentes, a meta de muitos objetivos iguais.

Talvez por sentir assim e claro, por ser mãe, me foi tão difícil escolher a primeira escolinha do Francisco.

Inicialmente decidimos que entraria na escola com 3 anos. Mas com a proximidade da chegado do irmão e toda  a curiosidade que revelava, antecipámos um ano letivo e o Francisco entrou com 22 meses para a escola.

Da angústia que senti, não preciso explicar a qualquer mãe que já tenha passado por isso. A quem ainda não passou pela experiência, estamos agora em época de poder observar: Se no seu trajeto diário passar por algum infantário, creche, escolinha ou colégio, repare bem nos carros à porta, aqueles que ainda não estão a trabalhar mas que têm mães dentro, a empurrar lenços de papel por debaixo das lentes dos óculos escuros, na urgência de parar o sentimento de abandono de quem sente que abandonou a sua cria, ainda que por umas horas.

Por mais que se saiba que eles estão bem, é o sentimento de mãe que não se compadece de respostas racionais e nos rasteira durante dias a fio, naquilo que eu chamo de adaptação da mãe à ida para a escola do filhote. (Dura etapa.)

Para lidar com a angústia, eu escolho munir-me da melhor razão (sim, não funciona, mas se não podemos fazer mais nada, porque não estudar o caso?). Nessa fase, pesquisei, visitei, inquiri, e investiguei tudo o que é estabelecimento de ensino que havia nas imediações. E escolhi. Com medos, com dúvidas, muita angústia, mas escolhi. Optámos pelo Jardim de Infância Cantinho do Pinheiro e ao longo dos 2 anos letivos passados, fui-me assegurando de que a escolha foi a melhor.

As instalações são ótimas, mas isso nunca foi a minha prioridade. O espaço exterior permite às crianças brincar ao ar livre, o que é excelente, tem animais (galinhas e coelhos), uma hortinha que eles também cultivam,  brinquedos e escorrega, área enorme de areia, e tudo isso é ótimo. Mas mais uma vez, sendo muito importante para mim enquanto mãe, não era a minha prioridade.

A minha prioridade era e é, as pessoas. Que pessoas lá trabalham? Que valores vão transmitir ao meu filho? Como vão gerir necessidades, medos, angústias? Saberão mimá-lo, acalmá-lo, abraçá-lo com aquela intensidade que as mães conhecem, aquele abraço que pára o choro, que recompõe?...

Essa sempre foi a minha prioridade.

E sim, na escolinha do meu Francisco, neste dois anos letivos, fui verificando atentamente que da escola para casa, para além do bibe sujo, daquele sujo bom de quem brincou que se fartou, vinham também os valores da amizade, da partilha, da preocupação pelo outro, da reciclagem, da preocupação pelo ambiente, tantas coisas, essas sim, a minha prioridade.

Estou muito feliz e agradecida pelo excelente empenho e trabalho desta equipa toda, direção, educadoras e auxiliares, todos tão significativos para este excelente trabalho.

Foi por tudo isso, que nesta reunião do início de ano letivo, fiquei com um nó na garganta que ainda não desatou ao saber que uma das salas este ano, por falta de inscrições vai fechar, e uma educadora vai ter que sair.

Vi o pesar em todas a equipa, e à educadora Tânia, a quem dei as boas vindas no seu primeiro dia de trabalho na escola, agradeço o seu excelente trabalho e empenho e digo um até já, cheio de força, porque conto com ela no próximo ano letivo para acolher o meu Afonso.

A toda a equipa, um sentido obrigado pelo excelente trabalho, força para superarem esta etapa e votos de um excelente ano letivo.


Ilustração de João Rodrigues

























2 comentários:

  1. Absolutamente lindo. Obrigada pela partilha! :) beijinhos muito grandes!

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    1. Obrigada Little M,
      Tem a beleza do reconhecimento sentido a quem dá tudo, todos os dias, para acolher o bem mais precioso da nossa vida.
      Beijinhos grandes
      <3

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